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Os Espíritos da Mata

por TREVO RIBEIRO

sobre a

POESIA

Os Espíritos da Mata

"Depois de tu ter feito um trato
Com quem tava no trono da ditadura
Tratou, a base de trator e tortura,
Os espíritos da mata,
A expressão da cultura
As pessoas e nossa vasta fauna
Enterradas sem perdão na sepultura"

FICHA TÉCNICA:
video por Carol Vidal @CAROL.VIDAL08
intrepretação em libras por MÃO PRETA LIBRAS
com Erika Mota

DATA: 2021

Depois de tu ter feito um trato
Com quem tava no trono da ditadura
Tratou, a base de trator e tortura,
Os espíritos da mata,
A expressão da cultura
As pessoas e nossa vasta fauna
Enterradas sem perdão na sepultura
Seu porte de arma
Deixam milhares de almas sem aporte
Não faz parte da minha calma
Ver você matar o Norte
Dou um giro, respiro fundo, bato palma
Para que os espíritos da floresta
Caiam todos de testa
Na tua sorte
E que numa noite indigesta
Venha um vento frio
Feito um corte
Junto a ume estranho assobio de uma fina fresta
E fale: tu achou mesmo que eu não ia lembrar daquelas mortes?
Aí tu sente um corte no peito
Que nem o mais forte dos sujeito aguenta
Sabe quem é?
É Matinta Pereira
Ela tá dizendo que vem pegar o tabaco na próxima sexta-feira
Quando ela, no formato de velha, aparece
Teu corpo padece,
Tua perna chacoalha
Um pássaro agourento
Chamado Rasga-Mortalha
Te deixa ao relento
Pelo teu imperdoável esquecimento
‘’Ai... Deus me valha!’’
Isso... Clama pelos teus!
Porque na mata
Quem grita de volta é o Mapinguari
Monstro peludo
Com olho na testa
E boca no umbigo
Mostro maçetudo
Sem tempo pra festa
Não é teu amigo
O sopro do bucho do Mapinguari
Dilata o aço e deixa em estilhaço a tua espingarda
Aí tu se arrepende de tudo destruir
Sem ter pra onde ir
Tua cabeça é arrancada
De madrugada
Nas águas de um rio qualquer
A Iara te faz de bobo
O boto te faz de mané
Te leva para o fundo do rio
Na boca do Igarapé
‘’Esse rio é minha rua’’
Se a rua é nóis
O rio é nois
Aqui tu não faz o que bem quer
Quer-queira, quer-não
1/3 daquilo que tu fez
Já era motivo de maldição
Pega o terço vai...
Reza chorando, olhando pra cima
Tu não queria consumir a mata?
Agora quem te consome é o fogo de Macunaíma
Lá de cima
Lá de cima se anuncia a queda do céu
Queda essa que conhece a nossa luta
Não argumenta
Senta que tu é réu
Sem advogado, o teu gado é tua culpa
O juíza é a poesia
Fake News de mito nunca foi mitologia
O veredito tá aqui nesse papel
Pois é...
Na real, tu nunca produziu nada
Tu matou e explorou foi muita gente em larga escala
Escuta, repara...
FIUUUUUUUU (assobio)
Tem gente que rir, tem gente que chora
É o sopro do Uirapuru
Com a fumaça da caipora
Que vai trazer justiça nos tormentos do agora
Porque assim como a rua
A mata cobra!

sobre o

POETA

TREVO RIBEIRO

Trevo Ribeiro é compositor, poeta e antropólogo. Nasceu em Xapuri, terra de Chico Mendes. Cresceu no Pará, Belém e Marabá, e se formou em antropologia no Rio de Janeiro. Em 2018 foi trabalhar no Acre com os Povos Indígenas em uma ONG e acabou descobrindo o movimento de poesia de rua da cidade de Rio Branco. A partir daí se engajou na mobilização artística e se apresentou diversas vezes como músico e poeta. Já participou de publicações de poesia e organizou um livro de poesias marginais com o grupo Slam Viral, campeonato interestadual de poesia online. Em 2021, lançou seu 1° EP, chamado ‘’A Mata Cobra’’ em Belo Horizonte.

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