FAVELICIDIO
"Ae rapaziada, boa noite
mô friozinho, certo?!
vou pedir a colaboração de todos aí
quem quiser, firmeza.
quem num quiser, pode ficar no lugar
só pra relaxar e esquentar o friozinho
vamo levantar a mão
ô que progresso (risos)
para esse lado, pra lá
para esse lado, pra cá"
FICHA TÉCNICA:
transcrição por Lika Rosa
Interpretação em libras por MÃO PRETA LIBRAS
com Greicy Santos
DATA:
periferia
quebrada
quilombo
traboca
maloca
mocambo
eles tentaram
mas não conseguiram esconder elas
e do oiapoque a chuí
um abismo nos revela
somos uma grande nação chamada
favela
a favela sempre foi
e sempre será favela
não importa como seja ela
palafita
cortiço
pombal
estilo hi tech
ou a tradicional
becos e vielas
eterna favela
a favela
é o retrato mais fiel
da injustiça social
pra quem não vive na favela pensa que ali
só existe o mal
o mal vestido
o maltrapilho
o desnutrido
o maloqueiro
e o marginal
somos a imagem viva
do preconceito e do descaso
deste rico país tropical
e para tapar o sol com a peneira
jogar pra debaixo do tapete
toda a sujeira
a elite brasileira
de mãos dadas com a dona modernidade
criou um nome mais bonitinho
comunidade
abraça não população
abraça não
a maquiagem sem piedade
a vida aqui truta
é sem massagem
e ainda nos perguntam
porque?
porque?!
porque são vários
vários são
os corpos que caem
ao cair da madrugada
o genocidio segue firme
levando nossa rapaziada
famílias são dilacerada
felicidade destroçada
e o diabo da risada
da maldade encapuzada
que sem hora marcada
pow pow pow
levou mais três
que não deviam nada
mais uma história mal contada
arma forjada
cena do crime mudada
um medo nas quebradas
ô deus
nossas almas não são blindadas
a população tá agitada
e a bandeira baixada
a guerra é fria
mas já foi declarada
favelas sitiada
guetofobia disfarçada
aqui a vida é rara
mas infelizmente
não vale nada
não fomos nós que começamos essa guerra
violação dos nossos direitos
é o que impera
segregação não se altera
derrubaram nossas forças
mas nunca acabarão com a primavera
antigamente favelas
hoje comunidades
quem dera a mudança de nome não nos trouxesse
a tão sonhada paz e igualdade
e que um dia a de prevalecer
toda justiça e verdade
e que assim seja feita
a nossa vontade
mas enquanto isso não acontece
descanse em paz
aqueles que deixaram
saudade
Ericson Carlos Pires da Silva, B.boy Banks. Um cara que foi “salvo” pela cultura hip-hop duas vezes: a primeira, quando se desvencilhou dos tentáculos negativos que seduzem muitos jovens de periferia e se tornou um dos melhores b-boys de sua geração, tendo excursionado com Thaíde & DJ Hum por todo o Brasil e até mesmo para a França; e a segunda quando teve um grave problema nas pernas, que o impediu de prosseguir na dança, e encontrou refúgio nos livros, nas letras, tornando-se respeitado poeta nos inúmeros saraus e slams que abrilhantou com sua performance – sempre ao lado de Cérebro.