FÁBRICA DE BICO SEGUNDO ZÓIO DE GATO
"(...)
é o favelado
por mais que eu não concorde
com as letras de apelação sexual
não posso aceitar discurso de ódio
que limite um movimento
autêntico e artístico
por gosto próprio
(...)"
FICHA TÉCNICA:
vídeo por Daniel GTR
Interpretação em libras por MÃO PRETA LIBRAS
com Greicy Santos
DATA: 2016
ser funkeiro
não é ser ligado ao tráfico
nem sempre funkeiro
é o favelado
por mais que eu não concorde
com as letras de apelação sexual
não posso aceitar discurso de ódio
que limite um movimento
autêntico e artístico
por gosto próprio
tal gosto que condena a
cultura afro brasileira
com as marcas da injustiça
que se fa(z)velado
atrás de um ponto de vista
que condena
quem por difícil conduta destrava
(...)
o passinho do romano
que não é menos
por não ser parecido com a valsa
funk,
tu rege um concerto
tal qual sensível
nas vidas quebradas
que são descriminadas
por ter sido
a única cultura acessível
por ser acessível já salvou vidas
me diz quantos bailes de favela
fizeram milagres
quando foram escritos
em um quarto mal arejado
por meninos
que não pegaram no cano
pela redenção da arte?
o funk é pra todos
pra todas as castas
me diz qual ritmo
que ia acolher uma travesti
que nem a lacraia?
cultura não é o nosso gosto
seu discurso preconceituoso
continua derramando sangue
vai ter baile sim
e se a perseguição continuar
vai ter ocupa baile funk
não reconhecer
o funk como cultura
é não reconhecer
os direitos do pobre e do preto
é desafiar os direitos humanos
com a desculpa da opinião
velando preconceito
ser funkeiro
não é ser ligado ao trafico
mas o funk abriga
uma juventude
sem perspectiva funcional
sendo esta a juventude que sofrerá
com a redução
da maioridade penal
pro burguês super tendência
não é fashion week
muito menos roupa cara
são roupas
sendo examinadas no IML
lotadas de furos de balas
com uma certa clientela
pra um público em especial
pobres e pretos quem vestem a
obra assinada pelo estilista: policial
se redução da maioridade penal
realmente funcionasse
Eduardo cunha
não precisaria ter nem 16 anos
há muito tempo estaria
atrás das grades
das grades que condena
à juventude periférica brasileira
que nunca
teve uma mão de ajuda estendida
e sim uma arma
apontada pra cabeça
Felipe Marinho
Felipe Marinho é poeta, performance, locutor e oficineiro, Autor do livro de poemas curtos “CALYPSO”, assinou a direção de fotografia do curta "ODARA" e trabalhou como assistente de direção nas séries "Irmandade", "Segunda Chamada" e “Pico da Neblina”, é integrante do projeto Afrônt Poesia e pesquisa corporeidade negra e performance dentro da literatura e do cinema.