SINHÁ ROSA
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Conhecida também pelo assovio a confundir
sua real posição, se bem baixinho estava distante,
se bem alto estava perto.
Hoje ressoam em meus ouvidos
e abarcam na minha mente
tempos longínquos que ficaram para trás.
(...)"
FICHA TÉCNICA:
vídeo por Gica TV
Interpretação em libras por MÃO PRETA LIBRAS
com Erika Mota
DATA: 2016
Sinhá Rosa,
mulher negra, muito negra, velha, sim, mas vigorosa, que a todos afrontava
com seu afiado facão quem lhe faltava com respeito. Não ligada a santos nem altar, e pela força de seu poder eras Sinhá sem nunca teres sido Sinhazinha.
De dia, eras dona da cozinha onde ninguém ousava entrar sem a tua permissão.
De noite, sentada na varanda da casa,
tendo a escuridão como aliada,
eras dona das histórias e memórias onde fadas, príncipes e palácios
não tinham lugar.
Tuas histórias, Sinhá, eram povoadas de cobras mágicas e gigantes
que seguiam os funerais daqueles que atacavam,
ou o espírito
de uma astuta cabocla de nome Comadre Fulozinha. Não confunda com
florzinha,
ora zombeteira,
ora malvada,
ou até prestimosa.
Conta a lenda
que com seus longos cabelos cortava
todos aqueles que adentravam na mata
sem lhe trazer de presente mel e fumo
que ela, comadre, tanto gostava.
Conhecida também pelo assovio a confundir
sua real posição, se bem baixinho estava distante,
se bem alto estava perto.
Hoje ressoam em meus ouvidos
e abarcam na minha mente
tempos longínquos que ficaram para trás.
E vejo que esta temida senhora de nome Rosa
só queria nos transmitir, na sua oralidade,
mitos e lendas que paginam
a história dos nossos ancestrais.
E nós, crianças assustadas,
não podíamos entender que estávamos diante
da própria lenda. De nome de Brasil Imperial,
a única Sinhá Rosa, sem nunca ter sido sinhazinha!
E, tardiamente, eu, uma daquelas crianças assustadas, rendo loas e broas a você, Sinhá Rosa!
Maurinete Lima nasceu em 1942 em Recife e faleceu em 2018, em 15 de Janeiro. Socióloga, poeta, ativista. Professora aposentada da UFRN. Mestra pela USP e técnica da Sudene. Fundadora da Frente 3 de Fevereiro. Em 2013 ela começou a frequentar slams e saraus, e escrever poemas que agora estão reunidos em Sinhá Rosa. Atuante do movimento feminista interseccional. Premiada na FLUPP 2016: terceiro lugar no campeonato nacional de poesia falada e o prêmio Carolina Maria de Jesus, oferecido a mulheres negras que realizam relevantes trabalhos sociais. Com participação em 2017 no Espetáculo SLAM! Eu, Tu, Nós, VOZ! - Abertura do Encontro Estéticas das Periferias; participação no premiado filme SLAM: Voz De Levante, dentro do Festival do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.